terça-feira, 14 de outubro de 2025

Arga Warga – 20º Aniversário

No passado mês de Janeiro, Arga Warga Edições celebrou 20 anos. A página da editora tem estado inactiva, sendo as menções mais dinâmicas no meu blogue profissional e no meu portfólio, em que partilho as minhas actividades e artes mais recentes, mas com o novo lançamento (Cadáver Esquisito!) imponha-se uma recuperação deste espaço. Assim, eis o rescaldo dos últimos quinze anos e respostas a FAQ:

Porquê o nome “Arga Warga”?

Além de outros significados em línguas estrangeiras, como no Tetum, em que significa Residente da Montanha, ou no Sueco, em que significa Cidadão Zangado, ou no antigo Grego, com Barca Lenta, tudo traduções que podiam espelhar aspectos da minha personalidade, o termo vem do dialecto futuro-distópico Riddleyspeak, criado pelo escritor Russell Hoban em Riddley Walker (1980) – o meu livro favorito –, que inspirou a fala da tribo das crianças em Mad Max Beyond Thunderdome (1985), de George Miller – um dos meus filmes favoritos –, em que a exclamação significa que uma pessoa teve um destino trágico, semelhante a “Uh-oh!”, no contexto de se ser devorado violentamente pelas alcateias de lobos protagonistas do romance, ou não fosse warga uma palavra germânica relacionada com lobo. O termo funciona ainda como onomatopeia para “tragar/devorar”, aludindo potencialmente ao folclore da bruxa Baba Yaga.
Daí que, inicialmente, o logótipo de Arga Warga Edições – que, por ser expressão inglesa, insisto na pronuncia “Árga Úarga” – incluía um lobo.
Por último, mas não menos importante, a expressão tem um significado especial por me ter sido cedido o uso pelo próprio Russell Hoban (1925-2011), quando o contactei com planos de adaptar o livro para BD, alguns anos antes do seu falecimento – algo que ainda pretendo cumprir.

Os primeiros anos da editora…

Após a estreia da editora com o comic-book de tiragem limitada Pão-de-Law: Primeira Fornada, cujo trabalho foi distinguido com Melhor Desenho Português no IV Troféus Central Comics, em 2006, com maioria dos votos do público (45%), a Arga Warga esteve dedicada à colecção All-Girlz, que desafiou a divulgação de novos talentos femininos na banda desenhada, publicada em um volume de 72p e duas revistas de 32-36p, actualmente esgotados. A nível de reconhecimento, All-Girlz foi um enorme sucesso, esgotando a tiragem de 300 exemplares em três meses e recebendo duas nomeações para Melhor Fanzine, no V Troféus Central Comics e no 17º Prémios Nacionais de Banda Desenhada, do festival AmadoraBD.
Os comics All-Girlz Galore e All-Girlz Banzai! foram depois nomeados no VIII Troféus Central Comics como Melhor Fanzine, vencendo com 36% dos votos, e como Melhor Obra Curta (‘Dream Machine 2.1’, de Joana Lafuente, em All-Girlz Banzai!), que venceu com 34% dos votos. De Galore, ‘Annushka, a boneca’, de Andreia Rechena, também foi finalista nesta categoria.
Ainda, Galore foi nomeado para Melhor Fanzine no 20º PNBD, e Banzai! para Melhor Fanzine no 21º PNBD, respectivamente.

Adicionalmente, entre 2006-2008, a Arga Warga Edições (AWE) fez parceria – inédita e única – com a Tertúlia BD de Lisboa, de Geraldes Lino, na publicação dos “slimzines” Tertúlia BDzine do ‘Ciclo de Homenagem a Robert E. Howard’, uma iniciativa proposta e produzida por Daniel Maia. Estes ‘zines de BDs curtas também tiveram vários reconhecimentos na comunidade de banda desenhada, com o prémio Melhor Obra Curta no V Troféu Central Comics (‘Kull: O Fim’, de Hugo Jesus e Nuno Sarabando, em Tertúlia BDzine #109), com 32% dos votos, mais a nomeação na mesma categoria para ‘Red Sonya: As Duas Torres’, de Daniel Maia e Pedro Figue.

Na sequência desta fase, o prémio retrospectivo I Troféus Central Comics: HD (Heróis da Década), que se presta a reconhecer “os melhores entre os melhores” livros e autores premiados no TCC na década prévia, e que se realizou pela primeira vez em 2013, reconheceu Daniel Maia com o 3º lugar em Melhor Artista Português da Década e All-Girlz com o 3º lugar em Melhor Publicação Independente da Década.


A época de retrospectivas e parcerias…

A Arga Warga hibernou na primeira metade da década de 2010, editando apenas o álbum integral Nome de Código: Dalton (2016), de Daniel Maia, em tiragem limitada e sem distribuição comercial. Este livro recupera as 282 páginas da saga do agente secreto Dalton, criado entre 1991-1993, em BD muito amadora, para celebrar o seu 25º aniversário.
Seguiu-se a parceria editorial com Kafre Edições, de José de Matos-Cruz, em que, após as suas colaborações nas trilogias d’O Infante Portugal e Aurora Boreal, publicadas pela Apenas Livros, os autores produziram adaptações para banda desenhada destas personagens, desenvolvidas em prosa ilustrada, assim as registando no panteão de heróis da BD lusitana.
O comic-book O Infante Portugal em Universos Reunidos (2017), que havia sido antevisto em uma exposição do 23º AmadoraBD ‘2012, foi lançado na 28ª edição desse festival e esgotou os 350ex em 4 meses. O título foi depois consagrado no XVI Troféus Central Comics, ao vencer como Melhor Obra Curta, sendo também runner-up como Melhor Publicação Independente, por pouca margem.
Já o álbum antológico Aurora Boreal em Reflexos Partilhados (2022), foi apresentada no 17º FIBDB (Festival Internacional de BD de Beja), após ter sido antecipado em exposição na 13ª edição, e teve duas distinções: em 2023, a banda desenhada ‘Aurora Boreal: Uma Luz que Reproduz’, por José de Matos-Cruz e José Ruy, foi finalista em Melhor Obra Curta no XX Troféus Central Comics; e ‘Aurora Boreal e o Reverso do Universo’, por José de Matos-Cruz e José Macedo Bandeira, obteve Menção Honrosa no Concurso de BD ‘O Faco ecoa em BD’, do Festival de BD de Póznan ‘2023.

Ainda, desta temporada, o II Troféus Central Comics: HD, consagrou a banda desenhada ‘O Infante Portugal em Universos Reunidos’ como Melhor Obra Curta da Década 2013-2023, em 2024.


Que futuro para Arga Warga?...

A marcar o 20º aniversário, a editora edita compilação do webcomic Cadáver Esquisito!, concebido e coordenado por Daniel Maia entre 2008-2015, que é actualmente a maior BD colectiva jamais produzida em Portugal e, provavelmente, a 4a maior do mundo! A iniciativa reúne 58 páginas de arte sequencial por 52 autores, entre profissionais do sector e ilustres desconhecidos. A apresentação e exposição decorreu no 20º FIBDB e o lançamento no 36º festival AmadoraBD.

De futuro, a editora planeia mais um título para o final do ano – uma surpresa, por ora…

E em 2026, se a agenda profissional do autor-editor permitir, estão previstos 4 títulos, lançados por trimestre: A reedição d’O Infante Portugal em Universos Reunidos, agora expandido para álbum; a compilação do ‘Ciclo de Homenagem a Robert E. Howard’, que estará a celebrar o seu 10º aniversário; e mais duas antologias, secretas por enquanto.

Cumprindo este calendário, os dez anos de AWE vão marcar uma nova fase mais activa da editora, caracterizada por edições de antologias temáticas e mais álbuns autorais. Até à data, Arga Warga editou 86 talentos portugueses; com os novos títulos perspetivados, seria caricato terminar o 20º aniversário com uma soma redonda de 100 autores...

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