No passado mês de Janeiro, Arga
Warga Edições celebrou 20 anos. A página da editora tem estado
inactiva, sendo as menções mais dinâmicas no meu blogue profissional e no meu
portfólio, em que partilho as minhas actividades e artes mais
recentes, mas com o novo lançamento (Cadáver Esquisito!)
imponha-se uma recuperação deste espaço. Assim, eis o rescaldo dos
últimos quinze anos e respostas a FAQ:
Porquê o nome “Arga Warga”?
Além de outros significados em
línguas estrangeiras, como no Tetum, em que significa Residente
da Montanha, ou no Sueco, em que significa Cidadão Zangado,
ou no antigo Grego, com Barca Lenta, tudo traduções que
podiam espelhar aspectos da minha personalidade, o termo vem do
dialecto futuro-distópico Riddleyspeak, criado pelo escritor
Russell Hoban em Riddley Walker (1980) – o meu livro
favorito –, que inspirou a fala da tribo das crianças em Mad Max Beyond Thunderdome (1985), de George Miller – um
dos meus filmes favoritos –, em que a exclamação significa que
uma pessoa teve um destino trágico, semelhante a “Uh-oh!”, no
contexto de se ser devorado violentamente pelas alcateias de lobos
protagonistas do romance, ou não fosse warga uma palavra
germânica relacionada com lobo. O termo funciona ainda como
onomatopeia para “tragar/devorar”, aludindo potencialmente ao
folclore da bruxa Baba Yaga.
Daí que, inicialmente, o logótipo
de Arga Warga Edições – que, por ser expressão inglesa, insisto na pronuncia “Árga Úarga” – incluía um lobo.
Por último, mas não menos
importante, a expressão tem um significado especial por me ter sido
cedido o uso pelo próprio Russell Hoban (1925-2011), quando o
contactei com planos de adaptar o livro para BD, alguns anos
antes do seu falecimento – algo que ainda pretendo cumprir.
Os primeiros anos da editora…
Após a estreia da editora com o
comic-book de tiragem limitada Pão-de-Law: Primeira Fornada,
cujo trabalho foi distinguido com Melhor Desenho Português no
IV Troféus Central Comics, em 2006, com maioria dos votos do público
(45%), a Arga Warga esteve dedicada à colecção All-Girlz,
que desafiou a divulgação de novos talentos femininos na banda
desenhada, publicada em um volume de 72p e duas revistas de 32-36p,
actualmente esgotados. A nível de reconhecimento, All-Girlz
foi um enorme sucesso, esgotando a tiragem de 300 exemplares em três
meses e recebendo duas nomeações para Melhor Fanzine, no V Troféus
Central Comics e no 17º Prémios Nacionais de Banda Desenhada, do
festival AmadoraBD.
Os comics All-Girlz Galore e
All-Girlz Banzai! foram depois nomeados no VIII Troféus
Central Comics como Melhor Fanzine, vencendo com 36% dos
votos, e como Melhor Obra Curta (‘Dream Machine 2.1’, de
Joana Lafuente, em All-Girlz Banzai!), que venceu com 34% dos
votos. De Galore, ‘Annushka, a boneca’, de Andreia
Rechena, também foi finalista nesta categoria.
Ainda, Galore foi nomeado
para Melhor Fanzine no 20º PNBD, e Banzai! para Melhor
Fanzine no 21º PNBD, respectivamente.
Adicionalmente, entre 2006-2008, a
Arga Warga Edições (AWE) fez parceria – inédita e única – com
a Tertúlia BD de Lisboa, de Geraldes Lino, na publicação dos
“slimzines” Tertúlia BDzine do ‘Ciclo de Homenagem a
Robert E. Howard’, uma iniciativa proposta e produzida por Daniel
Maia. Estes ‘zines de BDs curtas também tiveram vários
reconhecimentos na comunidade de banda desenhada, com o prémio
Melhor Obra Curta no V Troféu Central Comics (‘Kull: O
Fim’, de Hugo Jesus e Nuno Sarabando, em Tertúlia BDzine #109),
com 32% dos votos, mais a nomeação na mesma categoria para ‘Red
Sonya: As Duas Torres’, de Daniel Maia e Pedro Figue.
Na sequência desta fase, o prémio
retrospectivo I Troféus Central Comics: HD (Heróis da Década), que
se presta a reconhecer “os melhores entre os melhores” livros e
autores premiados no TCC na década prévia, e que se realizou pela
primeira vez em 2013, reconheceu Daniel Maia com o 3º lugar em
Melhor Artista Português da Década e All-Girlz com o 3º
lugar em Melhor Publicação Independente da Década.
A época de retrospectivas e
parcerias…
A Arga Warga hibernou na primeira
metade da década de 2010, editando apenas o álbum integral Nome
de Código: Dalton (2016), de Daniel Maia, em tiragem limitada e
sem distribuição comercial. Este livro recupera as 282 páginas da
saga do agente secreto Dalton, criado entre 1991-1993, em BD muito
amadora, para celebrar o seu 25º aniversário.
Seguiu-se a parceria editorial com
Kafre Edições, de José de Matos-Cruz, em que, após as suas
colaborações nas trilogias d’O Infante Portugal e Aurora
Boreal, publicadas pela Apenas Livros, os autores produziram
adaptações para banda desenhada destas personagens, desenvolvidas
em prosa ilustrada, assim as registando no panteão de heróis da BD
lusitana.
O comic-book O Infante Portugal
em Universos Reunidos (2017), que havia sido antevisto em uma
exposição do 23º AmadoraBD ‘2012, foi lançado na 28ª edição
desse festival e esgotou os 350ex em 4 meses. O título foi depois
consagrado no XVI Troféus Central Comics, ao vencer como Melhor
Obra Curta, sendo também runner-up como Melhor
Publicação Independente, por pouca margem.
Já o álbum antológico Aurora
Boreal em Reflexos Partilhados (2022), foi apresentada no 17º
FIBDB (Festival Internacional de BD de Beja), após ter sido antecipado em exposição na 13ª edição, e teve duas distinções:
em 2023, a banda desenhada ‘Aurora Boreal: Uma Luz que Reproduz’,
por José de Matos-Cruz e José Ruy, foi finalista em Melhor Obra
Curta no XX Troféus Central Comics; e ‘Aurora Boreal e o Reverso
do Universo’, por José de Matos-Cruz e José Macedo Bandeira,
obteve Menção Honrosa no Concurso de BD ‘O Faco ecoa em BD’, do Festival de BD de Póznan ‘2023.
Ainda, desta temporada, o II Troféus
Central Comics: HD, consagrou a banda desenhada ‘O Infante Portugal
em Universos Reunidos’ como Melhor Obra Curta da Década 2013-2023, em
2024.
Que futuro para Arga Warga?...
De futuro, a editora planeia mais um título para o final do ano – uma surpresa, por ora…
E em 2026, se a agenda profissional do autor-editor permitir, estão previstos 4 títulos, lançados por trimestre: A reedição d’O Infante Portugal em Universos Reunidos, agora expandido para álbum; a compilação do ‘Ciclo de Homenagem a Robert E. Howard’, que estará a celebrar o seu 10º aniversário; e mais duas antologias, secretas por enquanto.
Cumprindo este calendário, os dez anos de AWE vão marcar uma nova fase mais activa da editora, caracterizada por edições de antologias temáticas e mais álbuns autorais. Até à data, Arga Warga editou 86 talentos portugueses; com os novos títulos perspetivados, seria caricato terminar o 20º aniversário com uma soma redonda de 100 autores...
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